Por: André Montandon e Verônica Furtado
EDUARDO? SUPLA? PAPITO? CHAMPS!
Com mais de 1.800 shows, 190 músicas, 48 clipes, 17 discos em seus 30 anos de carreira. Eduardo Smith de Vasconcelos Suplicy, iniciou aos 14 anos de idade tocando bateria na banda Os Impossíveis. Mais tarde, entrou para a banda Metrópolis, mas logo foi convidado para ser o vocalista da banda Tokyo - onde teve grande destaque no cenário nacional.
Em 2009 Supla e seu irmão João, decidiram formar o Brothers Of Brazil, com o qual ganharam destaque internacional e realizaram só entre o Reino Unido e os EUA mais de 250 shows. De volta a carreira solo em 2016, o artista lançou esse ano o álbum bilíngue, "Illegal". E Uberaba, teve a oportunidade de conferir um pouco desse novo trabalho, no show realizado no dia 18 de maio na Casa de Giulietta, onde Supla foi acompanhado pela banda Dillinger. Aproveitamos essa visita para bater um papo com esse ícone do rock nacional. Confira:
- Como foi o processo de criação do seu novo álbum "Illegal", onde você aborda temas como questões sociais, segregação, política e sexo. E as influências sonoras que vão do punk à música eletrônica, e ainda passa por ritmos da Polinésia?
Supla - Primeiro, eu faço as musicas no violão, na maior parte elas vem em inglês e dentro do meu inconsciente aparecem umas palavras que me dizem para ir para aquele lugar ou pra outro lugar, depois de ter feito esse trabalho eu observo da onde veio esse inconsciente, dessa palavras que vieram e começo a falar sobre os temas, é um álbum duplo de 32 músicas, 13 músicas em português e 19 em inglês. Dentro desse assuntos, o Illegal, é uma coisa que já vinha observando, já a um tempo com a entrada do Trump, falando dentro da campanha que queria fazer o muro, principalmente contra os mexicanos, e eu achei isso muito chato, por quem construiu a América e principalmente a Califórnia, foram os mexicanos, lembrando que a terra eram deles antes, dos índios, então fica chato esse contexto. Essa letra eu fiz com a minha amiga Tatiana que é boliviana, e ela me ajudou no espanhol. A Tatiana Prudencia é minha parceira desde o álbum “diga o que é que você pensa” e fiz com meu amigo Pitter também. Essas musicas eu tive apoio da banda para fazer os arranjos, que é composta pelo Edgar Avian na bateria, o Henrique Baboom e o Bruno Luiz na Guitarra e o meu produtor o Kuaker. Mas no final eu sou o grande maestro de tudo, que organizo tudo, o que vai em cada arranjo, eu que decido tudo. E essas letras, eu acho importante, eu me coloco como repórter também, dentro do trabalho: então eu vou falando das coisas que eu estou analisando que eu to vendo, que eu acho importante deixar claro, a música não precisa ser só de política, mas eu reconheço que esse trabalho tem muito haver de com a gente está vivendo como ser humano aqui dentro da terra (planeta) e do nosso país também, principalmente, e é o que eu venho fazendo desde do meu último trabalho solo, “Diga o Que Você Pensa”. A minha parceira americana Victoria que fez a musica "Waiting in Tokyo", comigo. E agora estou pra lançar o meu novo som, que se chama "Ao Som Que Eu Vivi", ou em inglês "Losing What We Feel".
- O vídeo clipe de "Illegal", foi apresentado semanas antes do show de lançamento do álbum, sendo uma ótima prévia do que estava por vir. Nele você mostra diferentes imigrantes trabalhando na cidade de São Paulo, clama pelo fim da segregação e literalmente quebra essas barreiras. O que te levou à falar sobre esse tema?
Supla - - Eu até respondi um pouco na
primeira pergunta, o que levou foi a injustiça. Eu tenho consciência que eu
nasci branco, de uma família de classe media alta, e que pode me dar
oportunidade para tentar ser alguma coisa na vida. E é justo que as outras
pessoas tenham oportunidades, né. Porque, fica muito mais difícil você tentar
ser alguém, se você não consegue uma escola, não ter comida pra comer, não ter
lugar pra morar, fica difícil você ser alguém na vida, por isso que as pessoas
aqui, principalmente até em São Paulo, tem que ter mais compaixão com as outras
pessoas. Eu moro no centro, é muita gente morando na rua, é um negócio assim,
você não sabe se está morto ou vivo, e é uma coisa que a gente já está se
acostumando, é tipo “ahh. É normal”. E não é normal!! Porque são seres humanos.
Porque sei lá, então manda "matar" todo mundo, e aí resolve tudo. É isso que você
quer?? É tipo meio maluco, é como o Doria fez lá na cracolândia, entendeu. Sabe,
fez aquela intervenção absurda lá, e o que aconteceu? Aconteceu nada. O pessoal
ficou agora sem morar, tá tudo espalhado aí que nem louco, sem noção né!! Não é
papo de: "-Ahh, você é o dos direitos humanos", não é esse papo. É questão que isso poderia
acontecer com qualquer um. É difícil. Então, foi pensando nisso. Eu não preciso
ser “fudido”, pra entender o cara que tá fudido. Você tem quer ter essa
habilidade de se colocar no "sapato dos outros". Dentro do que eu posso fazer que
é muito pouco, é fazer uma música que as pessoas possam pensar, entendeu?... Só
de você chegar em um cara que tá pedindo uma esmola, e tem gente que manda tomar
no cu (que eu já vi), sai daqui. E só de você conversar com essa pessoa, essa
pessoa já vai se sentir melhor pro dia dela, que ela é muito sozinha né. Então
é esse tipo de coisa. Eu não tenho a solução, só estou falando dessa forma, na
educação. Eu sei também eu tem gente que pede dinheiro na rua e você não dá dinheiro e a pessoa te xinga, ou você dá e a pessoa nem te agradece. Mas cara é
difícil, é só se colocar na posição da outra pessoa que tá lá. As pessoas na
verdade só querem andar com as próprias pernas, é só isso. Por isso que as minhas músicas vieram assim. Eu moro aqui, eu vejo isso, então não tem como fugir disso.
- Você já sofreu algum tipo de preconceito pelo seu jeito de ser?
Supla - Aaaah sim!! A gente sofre toda hora; não só eu qualquer pessoa sofre, ahhaha, no jeito de se vestir, no jeito de pensar, normal.
- Podemos dizer que você é um sobrevivente do rock roll nacional, ou melhor, do rock "raiz". Como você enxergar a cena do rock hoje?
Supla - - Acho que tem muita gente. Acho que quem não dá espaço é a mídia, podia abrir um pouco mais. Eu to tendo a oportunidade de ir no programa do Serginho Groisman, da Fatima Bernardes, eu estou falando desses assuntos, cantando sobre isso. Das oportunidades que estou tendo, eu estou tentando preencher, entendeu?
- Qual é o balanço que você faz da sua carreira até aqui. E como foi a experiência de registrar os seus 30 anos de carreira no livro Crônicas e Fotos do Charada Brasileiro ?
Supla - - Pra mim mestre, é até engraçado, a musica que eu estou lançando agora “ao som que eu vivi” tem tudo haver com isso daí, entendeu, como eu vivi. É uma carreira, que teve os seus altos e baixos, mas no geral, foi uma carreira que eu consegui me manter. Foi maravilhoso comemorar os meus 30 anos lançando um grande show no auditoria do Ibirapuera e lançando um livro. Então eu só tenho a agradecer por tudo que ocorreu e pelo que estar por vir. Porque eu não morri ainda né, hahaha.
- Para finalizar, manda um recado para galera de Uberaba que é fã do seu trabalho e esteve presente na sua ultima apresentação na cidade.
Supla - Espero voltar em uma próxima oportunidade com a minha banda, agradeço o Dillinger que me convidou. Um grande abraço e até logo!!
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