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ZEBUNAREDE ENTREVISTA - MARCELO JENECI


Por: André Montandon 

foto: Mariana Benzaquem/Divulgação
Desembarga em Uberaba nesse sábado (19), um dos grandes nomes da nova música popular brasileira para uma apresentação especial no Laboratório 96. Pela primeira vez na cidade, Marcelo Jeneci, chega com a turnê de lançamento do seu terceiro álbum, Guaia, onde o artista volta as suas origens ao homenagear Guaianases, zona leste de São Paulo, bairro em que nasceu. Além de trazer experimentos musicais que se juntam à famosa sanfona do cantor e compositor, em uma mescla de acústicos, sintéticos e regionais que resgatam a trajetória de Jeneci ao longo de sua formação musical.

Aproveitamos essa ilustre visita, para bater um papo exclusivo com esse grande artista. Confira 😉

- Conte-nos um pouco sobre o seu novo álbum, Guaia, que remete as suas origens, e que contou com grandes participações?

Marcelo Jeneci - Guaia, porque sou de guaianases, da zona leste de São Paulo. Porque eu cresci na escola pública, "Viva os professores!". Tendo uma família em que minha mãe me apresentou logo cedo a espiritualidade e meu pai me deu as ferramentas necessárias, para lidar com o eu absoluto, para que eu tivesse os instrumentos musicais ao meu redor, pois percebia que eu tinha vocação para viver de música. Minha intenção com o disco é de contar a minha história. Porque cada um tem uma história forte pra contar. E esse alguém como viveu um dia sonhando em se alimentar do seu próprio alimento e esse abrigo que é a musica, serviu para nutrir essa vontade. Sonicamente, eu fui em busca de uma contemporaneidade sonora para fazer um disco altamente brasileiro e pop, falando pro mundo. Com uma qualidade sonora de disco, comparado com os produzidos fora do Brasil. Para mudar o paradigma que os discos produzidos lá fora são melhores que os daqui. Esse disco tem essa intenção de dizer que aqui a gente pode falar de igual para igual com o mundo. A participação que abre o disco é da cantora Ikashawhu, da tribo Yawanawa, com um canto indígena, para chamar a atenção de todos nós para que a gente se envolve, proteja, interfira e assuma pra si essas dores do sufocamento, genocídio, esmagamento dos povos indígenas de suas terras, que sempre sofreram perseguições. Mas, agora estão sofrendo como nunca. Uma outra participação é da cantora Maya que vem da Lapa, Rio de Janeiro, que canta comigo a música "Vem vem", que conta ainda, com a banda de Pífanos de Caruaru com a participação de João do Pife, Marcos do Pife e Zé Gago. No "Seu amor sou eu", tem as cordas dos músicos russos da Filarmônica de São Petesburgo, gravado dentro de uma catedral. Tem o Mario Caldato, que é um a mega, hiper, excelente produtor, finalizando e mixando a última faixa do disco comigo. E nas composições tem Arnaldo Antunes, Chico César, Mana e Pedro Bernardes e José Miguel.

- A música Emergencial, além do lindo canto da índia Ikashawhu, conta com um trecho que se torna marcante, "É emergencial a gente se conectar com a Terra". Podemos dizer, que se trata de um apelo para refletirmos sobre as nossas ações no mundo? 

Marcelo Jeneci - Exatamente. Estamos prestes a enfrentar um hiper aquecimento global nos próximos 30 anos, que vai mudar a história da humanidade. E desde o surgimento do capitalismo selvagem boa parte da humanidade, tem se afastado da unidade que deve se sentir com o planeta Terra. Achando que tudo aqui está para o nosso bel-prazer, que a gente pode explorar, como se não houvesse consequência. Não é do bem. É EMERGENCIAL!!!

Álbum disponível nas principais plataformas digitais.

- A sua mudança do "caos" urbano de São Paulo para para morar próximo à Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, teve influência na construção desse trabalho?

Marcelo Jeneci -  Contribuiu. Porque a natureza crua, da densidade da floresta, proporciona a você fazer contato com você mesmo, cada vez mais. Eu sai do estimulo urbano e fui para um território em que eu fiquei completamente isolado. Eu fui olhando mais para dentro do que para fora. Só assim fui validando a minha história. E daí vem todos os signos e arquétipos que eu trago nesse disco, como a  sanfona, o agreste, o eu romântico, o lance do pianista compositor. Tem uma música que eu trato de um conflito entre dogmas cristãos e o engajamento de seguir. Te outra que eu falo da infância, da saudade do meu pai. Então tudo isso eu fui acessando, fazendo contato comigo mesmo, do que com tudo que chama a gente pra fora. Isso graças ao isolamento que eu vivi ali no meio da Floresta da Tijuca, ao lado da maravilhosa Mana Bernardes, minha companheira, minha parceirona. Aprendendo que tudo tem um tempo. Eu fiz um disco processual, com o tempo que cada música pediu. Lidando com o desconhecido na hora da criação. Esse é o grande lance da arte. E não a habilidade objetiva da arte de controlar e antecipar a própria criação, entende. A natureza ensina sobre tempo pra gente; sobre tempo processual.

- Essa será a sua primeira apresentação em nossa cidade. Qual é a expectativa para esse encontro?

Marcelo Jeneci - Que as pessoas venham querendo, do mesmo tanto que estou indo, querendo. Porque o território de shows, de palco, de encontro, é um território sagrado, é um ritual. É pra gente se encontrar nesse ponto de encontros que é material e imaterial ao mesmo tempo. Venham sabendo que vai ser um show impactante. Com muita dança e bem emocionante. Espero todos vocês lá!

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